*Importante: Esta entrevista me foi dada em meados de janeiro de 2008 pelo Sr.Quincas, cujo objetivo seria uma das atrações de um site que estava construindo, mas como este projeto não foi à frente me senti no compromisso de publica-lá mesmo depois de quase dois anos. Alguma coisa mudou de lá para cá? Tire suas conclusões, para mim só trocaram o sofá, os ratos e as baratas continuam, eles sempre continuam nem a radioatividade acaba com estas pragas.
1) QUEM É QUINCAS?
R: Quincas, cujo nome de fato é JOAQUIM RIBEIRO BARBOSA, nasceu em Rio Vermelho-MG. e mudou-se para Diamantina no inicio de 1946, aos 4 anos de idade. Fato que constitui um marco muito forte em suas lembranças, pois a família de que faz parte veio para Diamantina numa grande tropa, com a viagem dividida em duas rancharias, uma delas na Fazenda Santa Cruz do Gavião, nos contrafortes do Pico do Itambé. Teve plenas condições de estudar, mas depois de vagabundear no Colégio Diamantinense, Caraça e Colégio Arquidiocesano de Ouro Preto, acabou se formando em técnico de contabilidade, já homem feito e casado.
2) COMO FOI SEU PRIMEIRO CONTACTO COM A VOZ DE DIAMANTINA?
R.: Ainda menino comecei a ler a Voz de Diamantina, meu pai se tornara um assinante e ela chegava à minha casa todos os fins de semana.
3) COMO E QUANDO NASCEU A VOZ DE DIAMANTINA?
R.: A Voz de Diamantina começou a circular em 1905, com o nome de Pão de Santo Antônio, criado por José Augusto Neves, com gráfica própria, para ajudar na manutenção da entidade por ele também idealizada e que lhe emprestou o nome. Nos anos de 1930, em razão de crítica recebida de um jornal da Igreja, Zezé Neves, fervoroso católico, fechou o jornal e o reabriu, em seguida, com o nome de Voz de Diamantina, com o propósito declarado de que seria uma publicação independente e voltada para a defesa de Diamantina e de seu povo. Durante as comemorações do Centenário do Pão de Santo Antônio, em julho de 2001, o velho maquinário da Voz de Diamantina, - o mais antigo, único e preservado existente em Minas Gerais, - passou a compor o Museu da Memória do Pão do Santo Antônio, aberto à visitação pública.
4) A VOZ DE DIAMANTINA TEM UM PERFIL DE PÚBLICO SÊNIOR, ESTA LINHA É UMA DIRETIVA PRÉ-DETERMINADA?
R.: Pela sua ligação intrínseca com o Pão de Santo Antônio - uma das instituições mais queridas da cidade - a Voz de Diamantina parece já ter surgido fadada a conquistar a simpatia do diamantinense. Quando me dispus a ressuscita-lá, em 2001, centenário do Pão de Santo Antônio, remeti os primeiros números de sua reedição (depois de 11 anos de interrupção) para diamantinenses que residiam fora, cujos nomes e endereços constavam no registro de doações que eles sempre faziam à entidade. Pela grande receptividade e adesão às assinaturas, pude constatar o quanto o jornal era querido e sentia sua falta. Daí sua linha de editoração bairrista, enaltecedora dos valores da terra, defensora e incentivadora de suas tradições culturais. Não houve nenhuma pé-determinação ou diretiva. O próprio amadorismo e idealismo com que o jornal passou a recircular devem ter ditado seu estilo independente, crítico e de bom nível. Não havia outra maneira para fazer ressurgir um semanário com 100 anos de história numa cidade que já teve a honrosa alcunha de ATENAS DO NORTE.
5) HÁ ALGUMA FORMA DE PATRULHAMENTO IDEOLÓGICO, JÁ QUE ESTA FUNDAÇÃO TEM FORTES LIGAÇÕES COM A IGREJA CATÓLICA?
R.: Neste sete anos de recirculação, e apresar das críticas às vezes mordazes da Voz e da troca de farpas com autoridades e instituições, nunca houve qualquer patrulhamento da Igreja. Tentativas - por parte de algumas entidades e pessoas que se sentem atingidas - até que foram urdidas. Mas em vão. Uma vez que a postura do editor-chefe não deixa dúvida à equanimidade com que trata assuntos, independentemente das esferas de onde provêm.
6) A LUTA PELA CONSERVAÇÃO HISTÓRICA DA CIDADE TEM SURTIDO MAIS EFEITOS OU DESAFETOS?
R.: Penso que mais efeitos. Mesmo os possíveis desafetos - com o passar do tempo e o amadurecimento da consciência patrimonial - acabam por curvar-se à importância da preservação histórica, arquitetônica e natural de Diamantina, garantia, aliás, de sua identidade cultural.
7)EM SUA OPINIÃO QUAL É O ENTRAVE PARA QUE A ÁREA QUE COMPREENDE A ANTIGA CADEIA PÚBLICA SEJA TRANSFORMADA EM ESPAÇO CULTURAL? TE CONFESSO QUE NAS ÚLTIMAS ESTADAS EM DIAMANTINA NÃO FUI ATÉ A ÁREA EM QUESTÃO, MAS A MINHA ULTIMA VISÃO DO LOCAL FOI DE DEGRADAÇÃO, LIXO E ABANDONO.
R.: Mesmo tendo lutado bravamente pela construção do Teatro Santa Izabel, cuja demolição para a construção de uma cadeia pública é mancha vergonhosa da cultura diamantinense, não posso deixar de aceitar como solução razoável o arremedo de teatro e cine-café que vem sendo construído pelo Projeto Monumental nas ruínas da Cadeia Velha. Como a antiga Cavalhada vem recebendo da municipalidade atenção especial de urbanização e de equipamentos importantes como o CVT, aquele belíssimo sítio de outrora que, infelizmente, os órgãos de preservação não souberam proteger, se tornará brevemente mais um dos poucos espaços de lazer e de cultura de Diamantina.
8)Fui a quase todos os carnavais de Diamantina do final dos anos 70 a dos anos 80; voltei em 2005 e fiquei horrorizado com tanta sujeira, fedor e quantidade de pessoas. Não é preciso ser um intelectual para saber quais são as organizações que faturam com este evento, posto nos moldes atuais como bizarro, qual é o beneficio deste evento para uma cidade patrimônio da humanidade; que bens trazem?
R.: Para o patrimônio cultural da humanidade, em si, o carnaval é altamente predatório. Mas para a economia local - principalmente a informal - a festa é um excelente distribuidor de renda. À semelhança do garimpo, cujos recursos já nasciam valendo 40% a mais, - por ser atividade absoluta e exemplarmente sonegadora, - algumas dezenas de milhões de reais entram na cidade durante a quase semana de folia. Costumo dizer que Diamantina não merece, mas precisa do carnaval.
9) Existe solução para o terror que se tornam as ruas de Diamantina, sem falar dos pormenores que acontecem à luz do dia, como pude comprovar pessoalmente, apesar de ser o carnaval uma festa pagã?
R.: Claro que existe. Mas a prefeitura e a policia não têm tido interesse ou competência para enfrentar os absurdos do carnaval de Diamantina. Mesmo assessorada pela forçada e bem intencionada Comissão Permanente de Carnaval, à qual devem ser creditados os parcos ganhos que a grande festa já contabilizou, toda a estrutura de segurança, de ordem e de respeito público está voltada para a APS - Área Prioritária de Segurança - que é parte do centro histórico. O resto da cidade tem de sujeitar-se a sons altíssimos pela noite inteira em zonas residenciais, assédios inaceitáveis e muitos outros procedimentos que tanto têm horrorizado as pessoas e transformado e diamantinense num indesejável intruso em sua própria terra. Pode-se dizer que Diamantina é uma cidade sem dono no carnaval. Algumas medidas tomadas em anos anteriores, como multas aos que urinam ou fazem sexo nas ruas, vêm sendo abrandadas, e o policiamento é muito mais ostensivo que punitivo.
10) Qual é sua opinião sobre as duas personalidades mais conhecidas de Diamantina, Juscelino Kubitschek e Chica da Silva?
R.: Sem dúvida, são também as personalidades mais famosas de Diamantina. Com um detalhe interessante: ambas vêm ganhando notoriedade, reconhecimento e admiração de Minas, do Brasil do mundo quanto mais passa o tempo em que desaparecem. Juscelino, que tão bem soube projetar a alegria, o charme e a determinação como atributos do diamantinense, se transformou no eterno presidente que o Brasil gostaria de voltar a ter. Já Chica da Silva, certamente a mulher negra mais poderosa da sua época, como também a mais discriminada do aristocrático Arraial do Tijuco, é hoje referência e orgulho de um patrimônio cultural da humanidade chamado Diamantina. É notável que uma escrava alforriada, num tempo em que mulher era criada para cozinhar e procriar, tenha se esmerado na educação de todas as suas muitas filhas.
RAPIDINHAS ( bate e volta ):
Um filme... Cine Paradise
Um livro... "Pá, Pé e o Papão", em cujas paginas aprendi a ler
Uma canção... Diamantina em Serenata
Um jornalista... Oto Lara Resende
Um político... Ainda por nascer
Uma poesia... I Juca Pirama
Um grande homem... Meu Pai
Uma grande mulher... Minha mãe
Uma cantora... Elis Regina
Um ídolo... Jesus Cristo
Um poeta... Castro Alves
Uma imagem... A Serra do Rio Grande banhada pelos últimos raios de sol poente.
Uma dor... A degradação do mundo.
Uma alegria... A descoberta de pequenos e anônimos heróis do cotidiano.
Uma utopia... Um Brasil de políticos sérios, honestos e coerentes.
Agradeço ao Sr.Quincas pela gentileza da entrevista desejando-lhe força e perseverança pois, como vemos sua luta por uma Diamantina mais saudável e justa ainda será tema para muitas entrevistas, BRAVO!!!
Rodney Simião Pereira (Um grande admirador)
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